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08-05-2015

O Amor nos Tempos de Websex

AMOR NO TECLADO4.jpg

AMOR NO TECLADO5.jpg

Tem um lance

nesse lance 

das relações virtuais

que é engraçado 

e chato:

não há relações

e no entanto

a maior parte do tempo

é gasto

em discutir as relações

que não há

no concreto e no ato.

Onde é que fomos amarrar nossa égua?

No amor imaginário,

nesse cavalo de asas,

todo dia tem 

ABC e DR.

É muito teclado,

e muito alfabeto

para pouca F.

Tá cheio o saco.

 

TECLADO DO AMOR 7.jpg

AMOR NO TECLADO12.jpg

 

 

 

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Para ouvir o poema, clique aqui:
podcast

Para ouvir uma canção, clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=lc3QIEAC0xw

 

 

 

30-04-2015

Pas question!

cílios.jpg

 

Elle est en train de dormir...

https://www.youtube.com/watch?v=D9YWJzhyKn4

28-04-2015

Prateleiras prateadas

prateleiras de dona Homera.jpg

 

Sempre me encantaram essas prateleiras

prateadas

na roça em que fui criada.

As panelas de ferro

para feijão

cozinhado com toicinho e banha de porco;

para carne de lata,

guardada como tesouro

no tempo das vacas magras,

na falta de eletricidade,

de refrigeradores.

Aquilo que se salga não se perde.

Até a nossa própria carne.

Joga um salzinho que não fede

nem fica podre

- diziam sabidamente os mais velhos

não muito afeitos a bolas de sabão preto

e banhos de bacia.

As vasilhas areadas

na bica d ´água.

Os potinhos de plástico

comportando doces

no alto

ao desalcance

de crianças lombriguentas  e esgabiladas.

Os forrinhos bordados

de galos, patos e flores.

O chão batido varrido

com vassoura de piaçava.

A vara pra correr atrás de moleque encapetado

que pirraçava.

A fornalha acesa

para assar milho.

A brasa para aquecer no frio.

O cheiro de querosene

dos lampiões e lamparinas.

Por causa desse amontoamento de utensílios,

voltei fundo aos meus terreiros

de menina.

Mas tornando a voltar às prateleiras,

que são  a prova

de que é possível resistir e brilhar

e ser simples.

Nem é preciso ser de ferro ou prata.

Basta

alumínio.

 

Eu mesma brincava

de fazer prateleiras

de tábua,

à sombra do pé de abacate

varrida,

fogõezinhos de tijolo

para conzinhadinhas,

embora tenha sido tão boa cozinheira

quanto matemática na vida.

As panelas eram latas de extrato de tomate.

E venho brincando até hoje

de casinha,

de casá-las

com a poesia luminosa

que até ontem eu não sabia:

foi esse mundo caipira

que me trouxe.

Com uma trouxa

de roupa amarrada

à ponta de um galho

como um jeca-tatu do cerrado,

vou ter que,

quer queira ou não,

transportá-la

para onde for.

Sem ela, sou um vão.

 

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A dona desta prateleira: Dona Homera, ao lado do marido Sebastião. Em Trindade (Goiás), 2006.

 

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