02-03-2021
A My Captain (in memorian)
Pra que ela não o reconhecesse, ele até pintou os cabelos, depois de ter irrompido de dentro do mar mais palpável do que cibernético, levando uma menina pela mão.
Um menino deus à procura dos óculos e de um mundo perdido.
Para que ela o notasse ele apareceu repetidas vezes em diferentes lugares, como um novo e insistente número mágico.
Para que ela o confundisse,
repetiram-se os cabelos, os olhos, a boca, até a textura da pele, a estreiteza dos quadris, a naturalidade e as circunstâncias do mundo que acabara de acabar, a mesma época do ano até.
Para que ela o reconhecesse,
ele até disse a senha: abre-te, sésamo
e ofereceu um mesmo peito duro de armadura
e umas mesmas espáduas mais propícias à insônia e à tormenta do que ao repouso e à calmaria, embora dessa vez tenha lhe oferecido também um choro convulso e não um assovio de saciedade ou fastio.
Para que ela tivesse a certeza de que ele era ele, mais uma vez partiu para o mesno lugar de sua natureza.
Para que ela se equivocasse, ela até vestiu o mesmo vestido da última noite,
para confirmar a certeza de que não, não era ele,
não,
ainda não.
21:04 | Permalink | Comentários (0)
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