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13-02-2012

Não encuque. A vida é tão linda no Facebook.

 

maozinhas de coraçao.jpg

 

 

 

 

 Cansei de ouvir dizer

 que sou revoltada, depressiva,

 de me recomendarem análise, meditação

 e outras terapias,

 macumba,  casamento, religião

 e um bom sexo de ocasião

 para extinguir  o meu vulcão

 existencialista.

 

 Cansei de me afirmarem

 que só escrevo coisas tristes,

 que as músicas de que gosto

 são por demais antigas,

 da mais fina e fedida fossa,

 da angústia mais doída.

 Agora só direi e escreverei coisas

 edificantes e

 cor de rosa.

 

 Só vou compartilhar frases de otimismo

 do melhor estilo

 Pollyana moça, Pollyana menina.

 Vou enviar correntes de oração.

 Vou juntar as mãos

 em forma de coração,

 lavar a boca suja com sabão.

 E fazer carinhas e biquinhos

 de felicidade e de malícia.

 E criar suspenses

 sobre novidades incríveis.

 

 E as amigas, por favor,

 todas me façam votos

 de sucesso, amor

 e alegria.

 E me digam o quanto sou

 alto astral,

 pra cima!

 E me confirmem:

 eu nunca fico mal.

 Todos os problemas da gente

 somem

 quando a gente mente

 lindas coisas

 no mural.

 

Não encuque.

 A vida é tão linda no Facebook.

 

 

 

 

 

 

28-01-2012

Antologia de textos, músicas e pessoas

 

 

vinho.jpg

 

In-confidência goiana

Deus,
quando eu provar de um vinho que não seja o seu
e de uma carne que não seja a sua,
faça com que eu mantenha
a minha boca fechada.
Ou afaste de mim de uma vez

esse cálice.

Ou cale-me.

 

Ou tranque meu corpo.

Ou interdite as minhas palavras,

 que ando um poço

 até aqui de lágrima.

 

http://www.youtube.com/watch?v=Wkfv3LxEfxA

 

 

"antologia de textos,músicas e pesoas",melancolia

 

Uma nova modalidade de amor
para se contrapor
ao platônico.
Este vê cores em tudo,
ao longe.
Já o amor daltônico
vê dores em tudo
o que come.

http://www.youtube.com/watch?v=H263F_Ds298

 

 

queimada.jpg

 

Diabo de água morro abaixo.
Diabo de fogo morro acima.
Diabo de brasa
que não vira cinza.
Devasta.
Cerra os dentes,
queima
e morde.
Vai,
covarde,
eis sua coivara.

 

 

 

 

 

23-01-2012

Costura a quatro mãos

Fréderique Daubal.jpg

Foto da artista francesa Fréderique Daubal

 

(Poeminha costurado com os motes de Cynthia Lorena Cintra, que também me ajuda a me coser)

Faz de mim um trapo.
Me chama de farrapo.
Depois me costura.
Eu,
não você,
com a linha e as agulhas
que nem a gente supunha
que podia ter.

Quando a gente pensava
que era o fim da linha
e do pano
surge um monte de remendos
e de enganos
a fazer.

Somos essa grande colcha de retalhos,
corte de um,
rasgo de outro,
um tecido,
de metro tão doído.
Mas ao fim o resultado
é esse desenho bonito
que se vê hoje.
Eu chamaria de seres de artesanato,
mas os chiques dão o nome
de patchwork .