Ok

By continuing your visit to this site, you accept the use of cookies. These ensure the smooth running of our services. Learn more.

12-07-2007

Deu nisso!

8f22903232d0f5d064feb44ee80bbce2.jpg



Feliz era o tempo em que as mulheres ficavam com todo o ônus da reprodução. Nossa participação era mínima e incerta. No saudoso matriarcado, a linhagem era contada a partir da mãe, afinal não dava para saber se o filho era meu ou seu. Aí, nós, homens, percebemos que, em vez de deixar com elas o poder e a propriedade, bastava vigiá-las e trancá-las. E inventamos o maldito patriarcado que veio dar nisso.
No começo até que era bom. Colocávamos nelas nossas sementes e se não frutificassem, elas é que eram secas. Com nossa brilhante civilização, porém, descobrimos esses gametas do capeta. Antes, podíamos até repudiá-las se não nos dessem um filho varão. Só que vieram de novo os machos e suas magníficas descobertas: alto lá! É do menino que vem o pepino! Para piorar, ainda inventaram o tal do teste de DNA que impede a gente de se divertir impunemente. Você está ali, tranqüilo, bate uma mulher à porta: quem ajudou a gerar Mateus que o embale.
Eu sempre cuidei bem das minhas camisas de – Vênus, não! – Marte, Martírio. Não só comprava as mais reforçadas, como as enterrava nas profundezas do vaso sanitário. É que se multiplicaram as marias-barriga, capazes de fabricar furinhos minúsculos nos preservativos e vasculhar o lixo para colher nossa seiva e pensão alimentícia.
A hora da provação, porém, chega para todos. Casei-me com Sara Regina, que, como todas as mulheres, já nascem com essa idéia fixa de maternidade. Eu nunca tinha pensado nisso. Não me deixei contaminar pela doença que se alastrou entre os homens modernos. Só se sentem realizados se forem pais. Até aceitam trocar fraldas!
Eu e minha mulherzinha tentamos, nos empenhamos e nada! Ela ficou obsessiva, marcava o dia da ovulação, colocava travesseiros sob as nádegas para não perder uma só gota do precioso líquido. Por fim, neném nenhum. Submeteu-se a todos os exames possíveis e finalmente o maldito ginecologista sugeriu que o problema era meu.
Meu?! Então não era apenas vontade de Deus?! Aceitei fazer o espermograma. Faltava essa: ser um sujeito ralo. Mais humilhante que isso só entrar naquela salinha do laboratório, potinho na mão. Para nos dar algum estímulo, posters de mulheres nuas nas paredes e revistas. Mas Sara Regina me fizera prometer que nunca mais olharia aquele gênero de publicação. Tentei pensar apenas nela, me sentei, mas a cadeira, nada confortável, gemia escandalosamente.
Qualquer ruído lá fora e eu achava que iriam irromper pela sala. Sarinha teria que perdoar essa pequena traição. Comecei a folheá-las, mas todas pareciam tão gosmentas, que tive ânsia de vômito. Depois de supremo esforço de concentração, em pé mesmo, superei o terror de que das gotas respingadas no chão brotassem mandrágoras e ali deixei o potinho modestamente preenchido. Iriam resgatá-lo. Ao sair, atendentes e pacientes – mulheres, naturalmente! – me olhavam com um risinho mal escondido. A representação maior da desforra feminina.

The comments are closed.