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21-07-2007

Fora, forasteiros!

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Se a gente quiser, pode xingar os irmãos, até falar mal da própria mãe. Mas ai de quem, sem os vínculos da consangüinidade, sem pertencer à família, se atrever a criticá-los. Sentimos a ofensa nos próprios músculos. A intimidade nos dá algumas franquias, certos direitos a resmungos e críticas. Com nossa cidade também é assim.
Muitas vezes falo mal de Goiânia, critico seu transporte coletivo desumano, trânsito violento, calçadas irregulares, e sempre cheias de entulhos e placas para atravancar o caminho. Reclamo de sua gente e manias. Mas quando ouço alguém que não nasceu em Goiás, que chegou em busca de oportunidades ou por desvio do destino, tratá-la com empáfia e desdém, me arrepio. E com que freqüência isso acontece.
Nós que nascemos e sempre vivemos em Goiás, temos nossos defeitos, mas o que não se pode dizer dos goianos é que não sejam receptivos. Na maior parte do tempo, tratamos com simpatia, acolhemos bem quem vem de fora, às vezes bem até demais. Talvez porque nos sintamos um pouco menores, um tantinho quanto inferiores, na lonjura em que estamos dos grandes centros, com nossas raízes caipiras.
Não foi por acaso que governos lançaram até campanhas para elevar a auto-estima dos goianos. Perceberam a fragilidade de nosso amor-próprio e elaboraram anúncios sobre as belezas da terra, as qualidades da gente, as transformações da economia, que deixou de ser exclusivamente agropastoril. Surtiram algum efeito, ao menos elegeram seus criadores e de quebra ampliaram nosso orgulho. Ainda assim, continuamos permitindo que esculhambem nosso sotaque, os nomes diferentes dos nosso filhos, nossos costumes.
Somos tolerantes demais com os pretensiosos, com aqueles que vêm de outras partes do País, acreditando encontrar aqui, por causa de nosso jeito caipira de falar, somente analfabetos e ignorantes. Desconsideram toda a sociolingüística que demonstra não haver um registro superior. Chegam, reeditando o velho etnocentrismo, arrotando conhecimentos e competências que apenas eles crêem dominar. Como se aqui não houvesse pessoas competentes. O que talvez não tenhamos seja o zelo exagerado em exibir a própria fachada, em ser todo o tempo boa vitrine de nós mesmos. Somos acanhados, um tanto mineiros, limpamos os pés no tapete e pedimos licença pra entrar.
Aqueles que chegam com ares de superioridade e menosprezo podem ser chamados de forasteiros. E são no mínimo mal educados, ao cuspir no prato em que comem, ao escarnecer da casa e da cara do anfitrião. Não são os migrantes amorosos que adotam o lugar e se dão a adotar. Julgando-se espertalhões entre simplórios, procuram lugares de onde possam extrair oportunidades, que consigam explorar, sem compromisso ou amor pela terra que os acolhe.
A esses devemos perguntar por que, se nossa cidade e estado não são bons o bastante para eles, não dão o fora! Aliás, por que não ficaram em seus lugares de origem? Talvez porque bicudos não se biquem.Talvez porque lá tenham que viver em constante briga de arrogâncias e precisem de outra platéia para arrotar a pretensa importância.

Comentários

Querida, você está certíssima! Já tive alguns embates nesse sentido. Goiânia é uma cidade cheia de adventícios; todos nós citamos, sem muito esforço, alguns amigos ou conhecidos de cada estado brasileiro. Ou seja: somos uma população ainda por se definir. E aí, os forasteiros (tal como você bem definiu) acham zilhões de defeitos "dos goianos". Já os desafiei a perguntarem sempre a quem comete barbarismos contra a cidadania: "Moço, Moça, você é goiano(a)?". Certamente, saberão que não...

Escrito por: Luiz de Aquino | 22-07-2007

Eu, sim, com meus dez anos e alguns dias, já poderia falar mal de Goiânia se o quisesse - e olha que até vinha exercendo esse direito. Mas concordo que uns e outros, chegados há tão pouco tempo, valem-se de um direito que não é seu pra tentar ridicularizar nosso Goiás, um estado melhor a cada dia. Fora com eles! Que voltem pra seus suls e sudestes-maravilhas. Que tentem ganhar a vida por lá (ou por aqui, já que é onde me encontro agora), onde muitos veículos de comunicação são tão medíocres quanto vários de Goiás, e parem de encher o saco.

Escrito por: pgalvez | 24-07-2007

Obrigado por ter deixado me entrar um pouquinho no seu mundo, favoritei e os lerei com mais tempo.
Olha so, nao presciso falar muito, vivo em pratica esta questao diaria.
Sou forasteiro, sou estrangeiro, sou diferente dos tipos locais, penso, visto, falo com sotaque....
Mas nao falo mal de minha cidade amada, de meu povo corrido, nem dos que nos querem destruir (mas confesso tambem, tenho uma carteirinha especial de cacar esses terroristas)...
Falo sempre.
Se nao estiverem satisfeitos, o que voces fazem aqui?
Voltem pra casa meu, deixem nos com nossos estilos de vida, com o nosso consumismo, com nossa pressa.....
Se nao aguenta o calor, o que faz na cozinha?

Escrito por: max tuta | 04-08-2007

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