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07-06-2006

Não bata no vidro!

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Voltei a sentir a dor
que havia tempos não tinha.
As palavras me dão enjôo;
o silêncio, vertigens.
Pus novamente uma tarja preta
à porta dos olhos
antes boquiabertos, agora sonolentos,
opacos
como dessas modelos de foto, freezer e passarela.
- Eu me cago para o mundo,
Mas não me cago nunca
porque não tenho miolos
nem desses orifícios porcos
e famintos!

Estou me transformando novamente
em uma samambaia psicodélica.
Viva! Vivam os meus esporos!
Viva o brejo em que fui colhida!

E outra vez a placa
que vigia o sossego
e o desespero dos aquários:
não bata no vidro!
Não há ninguém em casa
ou no fundo dos armários!
Vade retro! Não insista!

Ninguém mais mexe o copo
sobre a toalha branca
da mesa sextavada,
apontando para as letras
dos nomes penados.
Já inexiste metafísica.

Não há mais espíritos, sobressaltos,
taquicardias, cortinas que ventam sozinhas,
teclados de computador que à noite são digitados
por mãos invisíveis,
como se compusessem um romance ou sinfonia.

Não há mais romance nem poesia.
E esse oco no estômago,
essa ânsia de vômito,
essa azia,
não são gazes, amor, gastrite,
são lombrigas, rastejantes, intestinas.

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