Ok

By continuing your visit to this site, you accept the use of cookies. These ensure the smooth running of our services. Learn more.

24-07-2006

Saparia

medium_saparia_copy.jpg
Necessidade faz sapo escalar.
Quem não tem cão, caça com sapo.
À noite, todos os sapos são pardos.
A sapo dado,
não se olha o coaxar.

Pra achar o sapo,
é preciso beijar
muito príncipe encantado.
E tem sapo belo adormecido.
O sapo não passa arreado
duas vezes.
Caiu na rede,
é sapo.

Todo sapo tem sua sapa.
Toda sapa tem sua sapa.
E pra todo sapato
tem a sapata.

Quem beija demais
fica com sapinho na boca.
Em boca fechada
não entra sapo.
Mas quem nunca engoliu
uns sapos na vida?
E se a gente engole sapo
cobra também engole
O que é mais terrível?

Quem aponta para sapos no brejo
fica com berrugas no dédo.
Se alguém vir um sapo cadente
deve fazer um pedido.

Quem semeia vento,
colhe sapos.

Tem gente
que nunca desce
do sapo alto.

Ver um sapo preto
debaixo da escada
dá azar.

Não adianta chorar
depois de o sapo
ter pulado.
O sapo ficou esborrachado
porque foi à festa do céu
sem ser convidado.

Tem gente matando sapo a grito.
E jogar sal é crueldade.
Cuidado!
Os sapos têm sete vidas.

Sapo escaldado
toma banho de água fria.
O sapo lava o pé
na bacia.
Tem sapo que joga a água fora...

Muito sapo
é sinal de pouco siso.
Tem gente que tira sapo
da cara dos outros.
Foi por causa de um sapo
que se atirou no poço
o Narciso,
não porque se achava
bonito.
E de que cor
era o sapo verde
de Napoleão?

A história devia ser escrita
do ponto de vista
dos sapos,
porque é de girino,
que se torce o pepino.
E quem ama o sapo,
bonita lhe parece
toda criatura viva.

14-07-2006

Atualizações

Não tenho publicado novos textos aqui ultimamente, mas volto logo. Por enquanto, tenho atualizado mais o flickr.
É a empolgação com o mundo da fotografia. Enquanto não volto, eis o endereço em que muito me encontro:

http://www.flickr.com/photos/cassia_fernandes/

04-07-2006

Lugares imprevistos do amor II

medium_wc2.jpg

Banheiros são lugares de acontecimento, principalmente nas boates dos que entendem, se é que me entendem. Lá, nos espaços privativos das imperiosas necessidades humanas, histórias se dão. Muitos romances tiveram início ou sofreram seu termo em sítios assim, nada românticos, e pelo ralo da pia se esvaíram águas tingidas de rímel, amores breves, e golfadas de vômito e desencanto.

Mas os improvisos e imprevistos do amor também ocorrem nos banheiros para os sexos específicos. Com Marta deu-se assim. Ela sempre os freqüentou ingenuamente, sem nenhuma perversão ou pretensão. Aprendeu a decodificar as tabuletas de masculino e feminino, de cavalheiros e damas, senhores e senhoras. Quando havia um bonequinho reto ou uma bonequinha com saia; um sapato de salto alto ou um chapéu; uma cartola que escondia falos ou coelhos, opondo-se a um leque para abanar ou cobrir as vergonhas de Eva, saía-se bem.

Não viessem, entretanto, com aqueles símbolos esquisitos de gametas masculino e feminino. A seta coroando a bolinha parecia sempre indicar que virasse à direita. Virando-se, porém, muitas vezes percebia que à esquerda é que ficava a bola com a cruzinha. Cristã que era, a cruz a levava a persignar-se e nisso ela se distraía, se confundia, e tinha mais erros do que acertos.

Ignorava que eram símbolos pagãos, signos astrológicos que remontavam aos romanos antigos. Onde já se viu, ter que saber que o círculo, com uma seta para cima, representa Marte, o deus da guerra, a masculinidade, e que, com uma cruz embaixo, representa Vênus ou Afrodite, a deusa do amor e da beleza, a feminilidade? Toda essa cultura para poder aliviar-se?!

Em um dia de ignorância, na faculdade, nem tinha fechado o zíper, quando deparou com ele.

– Creio que me enganei – murmurou, desajeitada.

– Sim. Você se enganou – ele ainda pôde divisar as rendas de sua calcinha amarela.

– Não devemos sair juntos.

– É. Podem pensar.

– Sim, podem pensar certas indiscrições.

– E o que pensarão se pensarem?

– O que eu pensaria se visse saindo juntos de um mesmo banheiro um tal homem e uma tal mulher.

– Algo como: eles vieram aqui para ficar a sós. Lá fora, se vistos conversando, ela, quase noiva, ele, prestes a casar-se, chamariam muita atenção, despertariam a curiosidade e o ciúme.

– Tem razão.

– Aqui podem conversar à vontade. Até então não haviam se contemplado como masculino e feminino. Havia gente demais entre eles.

– Sim. Enquanto ele lava as mãos, ela penteia os cabelos, ou retoca o batom. E podem se beijar. Talvez?

– Claro. Quem sabe até tocar-se mais intimamente, tendo por testemunhas apenas o espelho, e essa surpresa e frustração de não terem se encontrado antes de assinarem tantos contratos.

– Aqui está o papel toalha.

– Obrigado. O batom vermelho fica muito bem em você.

– Creio que devo sair primeiro.

– Amanhã então?

– Certo, nessa mesma hora.

– Tome. Leve. Neste papel eu desenhei.

– O quê?

– Ora! O símbolo! O gameta, com a seta – veja bem – apontando para a direita. Olhe bem, antes de entrar. Não vá se confundir, Marta!


(Texto publicado em O Popular, no dia último dia 29 de junho.)

medium_wc.jpgmedium_simbol-homem.2.gif