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13-12-2007

O capeta 9.316

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Em situações cômicas e às vezes até trágicas se envolvem pessoas, arrastadas pelo aparentemente inofensivo pecado da vaidade, que, aliás, já não se considera mais pecado. Passou a ser virtude, ainda quando extrema. O que importa é aparentar sucesso, juventude e beleza a qualquer pejo.
Há coleções de episódios em que ela semeou atrás de si rastro de vexame e constrangimento. Casos que me contaram ou que ouvi sem me narrarem. Como daquela mulher madura, muito juvenil para sua meia idade. Tingia com zelo os fios brancos dos cabelos, mas os de baixo esbranquiçavam-se sem atender a seus apelos.
Ao sair com um rapaz bem mais jovem, não quis delatar-se. Usou rímel preto sob a lingerie negra. Ele se dedicou a satisfazê-la. Mas quando voltou da viagem aos úmidos trópicos, exibia bigodinho suspeito. Receosa de que ele se olhasse no espelho, ela passou o resto da noite a acariciá-lo com algodões embebidos em loções de limpeza.
Houve também o caso daquela outra moça, que saiu de casa orgulhosa com o novo par de olhos azul-turquesa. Ignorando o aspecto vampiresco que as lentes de contato conferem, foi ao principal ponto de encontro da pequena cidade: a agência bancária. Quando entrou, no pretexto de pagar a conta de água, a súbita mudança de cores chamou a atenção de todos, inclusive de um velhinho humilde que exclamou bem alto: ‘Uai! Aquela mulher ali ficou cega?”. A moça voltou roxa de vergonha para casa.
O fato de mencionar casos envolvendo apenas mulheres não faça crer, no entanto, que a vaidade seja cultuada apenas pelo feminino sexo. Os homens de cabelos cor acaju estão aí para atestá-lo. E também esses rapagões bombados que – dizem as más línguas – sacrificam até a virilidade para poder andar daquela forma estranha, com braços e pernas abertas por causa dos músculos hipertrofiados.
E não há apenas a vaidade de exibir um belo corpo. Há a vaidade do dinheiro e do poder, essas das mais feias de doer. Que demonstração patética não foi a do senador ao agarrar-se ao osso presidencial? E os políticos ilustres que dão chiliques nas solenidades, quando não são citados ou não são reservados assentos para seus traseiros dourados? E os que fazem financiamentos a perder de vista só para ostentar por aí um daqueles carrões invejáveis?
Ainda que a vaidade não seja considerada mais pecado, que todos nós tenhamos erguido pra ela um altar no meio do quarto, sempre me lembro de um livrinho que li na infância, e que retratava a vaidade como uma capetinha de somenos importância. Era “O Capeta 9.316”, escrito por Douglas Avanço. A história de um coisa ruim inferior na ordem dos tinhosos e que foi enviado à Terra para fazer com que todos pecassem e travassem uma batalha interminável de egos insaciáveis. Foi fácil para o capeta da vaidade convencer o urubu de que era o rei dos animais, o mais belo e importante, posto que limpava o mundo de tudo quanto é sujo e restante. E assim a vaidade nos convence de que somos os tais. Quanto menos se pressente, estamos nos achando os maiorais. E deixando para trás ridículos, dívidas, desgostos e o gostoso perfume de enxofre.

Comentários

Puxa, eu sou um cara muito vaidoso que às vezes chega a ser doença. Tenho um pouco de tudo dessas vaidades que vc mencionou, menos a do corpo (sou magérrimo, por enquanto...rsrs)

Escrito por: Huguinho | 03-01-2008

O que é que você tá querendo dizer? Que eu não devo usar mais remédio pra calvície???

Escrito por: phgalvez | 08-01-2008

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