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06-08-2007

BLOGAGENS

Nosso olho maior que a barriga

Fartura ou desperdício?

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Ontem assisti a uma matéria no Fantástico sobre o desperdício de alimentos nos restaurantes. A matéria mostrou os preocupados Chitãozinho e Xororó, donos de uma rede de churrascarias. Aqui em Goiânia, há uma delas, com uma foto gigante dos dois, abraçados ao também cantor sertanejo Leonardo. Trata-se de um ambiente - não me refiro ao local nem à qualidade da comida - que peço licença para ter o direito de abominar. Mas minhas abominações não vêm ao caso aqui.
Gostaria mesmo de falar sobre a reportagem, que mostrou as restrições feitas pela Vigilância Sanitária ao reaproveitamento e doação de alimentos servidos nos restaurantes. As normas são rígidas sim: alimentos servidos à mesa e não consumidos, não podem ser doados, por exemplo a instituições filantrópicas, pois há risco de que tenham sofrido algum tipo de contaminação. Aqueles espetões gigantes que sobram nas churrascarias também não.
E esse ponto mesmo é que os cantores-proprietários questionam: por que não flexibilizar as normas, para que a carne, ainda em boas condições de consumo, seja aproveitada? A reportagem mostrou então que os cantores liberaram os funcionários para comer tanto quanto queiram após o serviço, o que também não solucionou o problema, uma vez que as sobras são muito mais do que eles podem consumir.
Acho justo o questionamento sobre as regras, mas ao assistir às entrevistas, me ocorreu questionar também se esse modelo de restaurante, as churrascarias, caracterizado pela abundãncia, não é um modelo que deveria ser revisto e até mesmo abolido. Agora que todos falam tanto em combater os danos ao meio ambiente, em repensar nossos atos de consumo, por que não refletir sobre esse tipo de estabelecimento que, ao servir fartura, estimula o desperdício?
Afinal, sejamos sinceros, a maioria das pessoas quando paga um rodízio em uma churrascaria, paga para se encher até a borda, recusar comida, não dar conta mais. Se não houver um garçom surgindo a cada minuto com um espetão fumegante, o serviço não é bom. É preciso jogar comida fora, pra valer o dinheiro gasto.
Ignoro se nos países europeus existem churrascarias ou restaurantes similares em desperdício de comida. Não creio, pois o velho continente, que não dispõe da nossa continentalidade e da nossa exuberância natural, já muito padeceu de fome, para não fazer um prato refinado do "arrozd`onté" ou do queijo embolorado. Parece-me que essa cultura do desperdício também tem muito a ver com a fartura dos trópicos.
Por fim, eu que, embora carnívora, não sou nada amiga de churrascarias, acredito mesmo que é muito mais vantajoso e justo pagar por pratos individuais, que em geral vêm com uma quantidade adequada para consumo, ou, melhor ainda, freqüentar os populares restaurantes por quilo. Assim, o olho não fica tão maior que a barriga. E quando a gente estiver com a barriga cheia, se sobrar algum dinheiro, a gente pode comprar comidinha nova para os pobres, em vez de presenteá-los com nossas sobras.

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