22-05-2007
Mula-manca
Anita gosta de mula manca - “pouco se lhe dá que a azêmola claudique”– Mas é que esse feitio de blusa lembra a ela as amazonas sem freio de um só seio. Dizem que amputavam um deles pra melhor portar as armas. Então quando as veste se traveste em guerreira pronta pra ver a vida e seus imprevistos, abismos agrestes e emboscadas celestes. Gosta sempre das assimetrias já que não conhece exatidão, embora filha de Ares e Harmonia. E quando a fotografam para as revistas está sempre como grega antiga, não para exibir ombros de nadadora ou colo de monalisa, uma peça leve e frouxa onde assim mesmo se vê discreto desnível entre lado e outro. E nunca autoriza ser vista ou tocada acima da linha imaginária da cintura de ecoador. Apenas em salas escuras em adiantados horários sob a luz rubra de abajures encarnados. E só vai por cima. A crina solta, cavalga sangrando a boca de suas vítimas. O câncer lhe levou um dos seios pra melhor dotá-la de coragem e espírito. Ela se recusou a pôr as próteses do despeito. O médico ainda disse que ali no falso é que novo tumor se esconde. E se o espírito de uma mulher não está no dorso Anita sabe onde.
08:58 | Permalink | Comentários (0)
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