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23-05-2006

Trovas e trevas



À la Friedrich, não o Nietzsche

Se não agrada,
não diga.
Já basta todo dia
não estar na medida,
do que esperam de você.
Deitar na cama grega
que te estica ou corta
pra caber.
E ser
são tantas coisas esquisitas
e desencontradas.
E os desejos crescem como lombrigas
cevadas nas vitrines das cidades.

Que seja alta no posto
e na cama, baixa.
Que na bonança tenha as burras gordas
e nas vacas magras,
as tetas grandes e a anca vasta!

Se não bastasse a danação de Eva
e a vastidão de Raimunda!
Já chega carregar que saco
de sentimentos e osso
por toda a eternidade,
sem outra rima senão
as rimas sem solução!

Que cabelos sejam grandes
mas bem cortados.
E venham lisos,
mas que haja cachos.
Ser ora Sansão, ora Golias.
Ora amar, ora engolir,
que anda a fila!
Que seja Narciso, mas não Cleópatra!
Que seja Vírginia Woolf, mas nunca prosa!
Loba, mas não cachorra.
Gata, só não jaguatirica.
Basta disso! É foda!

Se não sou o que você procura
vá pra Cingapura!
Quem sabe pra você não há alguém
em belém-belém. Eu nem estou aqui.

P.S: As últimas linhas são quase uma repetição dos meus versos preferidos de Marcos Caiado
"O que você procura
não está em Cingapura.
Pra você não há ninguém
em Jerusalém.
(...) Eu estou aqui."



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