14-08-2011
Sobre troncos grávidos, tempo e sobre meu pai
Impressionante como a vida se renova. Uma árvore que germina dentro de outra árvore morta. Na fazenda onde vivem meus pais e onde passei grande parte da infância, uma gameleira brotou onde menos se esperava. Fora substituir outra, que já partira para o céu verde das árvores.
Diante da casa, bem no centro de uma área que os da roça chamam de piquete, onde costumam deixar os bezerros depois de apartados das vacas nos currais, ou os cavalos antes de arreados ou depois de libertos dos arreios e da peleja, havia uma imensa gameleira, uma árvore bela e imponente que me lembro de ver desde que me entendo por gente. Natural, posto que ela tinha exatamente a minha idade.
Muito embora árvores costumem viver muito mais que a gente, a gameleira já não exibia, nos seus mais de trinta anos vastos, muita vitalidade. Havia se vergado sob o peso de seus exacerbados galhos. Por mais que lhe fincassem estacas para sustentação, ela caía sobre si mesma e se tornara não mais encantador porto de passarinhos, mas um triste poleiro, logo aquela gameleira onde nos tempos dourados da infância, eu brincara e fantasiara dias inteiros, onde os meninos ou peões da fazenda haviam inscrito seus nomes a canivete. Pois ela foi adoecendo, secando de bichos e de tristeza, e meu pai não teve como senão cortá-la, sem que fosse para o nobre destino de fazer gamelas.
Foi um trabalhão desterrá-la dali com suas raízes imensas. Precisou-se de um trator para puxar a ossada. E como aquele terreno ficou triste e desolado sem ela. Mais um motivo para eu não querer ir para fazenda. Já não encontro nela os sinais grandiosos e a alegria da minha infância. Tudo ficou tão pequeno e devastado. Eu é que cresci decerto. Então, quando a gente retorna aos locais da infância, tudo que antes parecia grande se tornou tão pequenino. E meus olhos também foram deliciados e corrompidos por outras ambições e paisagens.
Minha mãe costuma dizer, na impiedade natural aos que já conviveram por 50 anos, que papai nunca foi dos mais zelosos com o terreiro. No quintal, diminuído por cercas, muitas árvores já não existem: abacateiros, mangueiras, o grande pé de tamarindo. Foram morrendo, foram sendo cortadas e ele nada de renovar o pomar.
O paiol, onde antes se armazenava milho e onde eu muito brinquei, com grãos e remelentos gatos, foi caindo aos pedaços até desaparecer por completo. Do mesmo modo, o chiqueiro, o mangueiro, onde se criavam livres os porcos, são hoje apenas pedaços de madeira velha, compondo ruínas. Felizmente até, porque hoje por ali já não se pegam bichos de pé. A varanda onde antes se desnatava leite, a bica d água com seu gemido de monjolo, amassando milho, tudo foi ruindo e se extinguindo em vermelho pó.
Cem anos de solidão - Como escrevi certa vez em que retratei a fazenda Taperão, ela que teve seus anos de magia, grandeza e de progresso, e que depois se rendeu ao seu destino de batismo de tapera, eis o que o tempo opera, em seus cem anos de solidão. Tal como dizia Garcia, o Marquez, não meu pai, que por ironia também tem esse apelido (ignoro por qual motivo), o tempo tudo avacalha e tudo vilipendia.
O tempo tudo vai corroendo, até as nossas próprias forças. A ferrugem avança sobre os ferros, as madeiras apodrecem. Até as árvores nascidas para viver muito deixam de dar fruto, e sem adubo e indefesas contra as pragas, morrem. A batalha contra ele existe esforços incansáveis. E é impossível deter a decrepitude do corpo e a transformação da matéria. Podemos apenas tentar adiá-la, numa luta vã e inglória. Meu pai nunca fez grande esforço para isso, não protegeu a pele contra o sol, nem os cabelos contra a brancura da paina, nem a coluna da curvatura, nem as benfeitorias da fazenda, embora guarde dentro de sua frágil ossatura uma invejável vitalidade a tanta gente futura. E hoje, já beirando os 80 anos, não tem pelo menos forças físicas para tudo renovar e reconstruir. E os filhos, ah, pobres de nós, filhos, com as gerações, se raleia o sangue, se degenera e esmaece o brilho.
Mas essa decadência – enxergo – além de estar ligada à velhice, tem a ver também com o fim dos velhos modelos de fazenda, onde se fazia de tudo para a subsistência: o sabão preto, as cobertas de lã, a farinha de mandioca, onde se criavam porcos e galinhas. Ainda vivi o tempo da luz de lamparina e do lampião de querosene, a água aquecida na serpentina do fogão. Mas todas essas coisas – o paiol onde se armazenava o milho para alimentar a criação foi substituído por um grande e metálico galpão – todas elas foram cedendo espaço a novas invenções, para tornar a vida menos dura e mais rápida. E as tristonhas vacas gir, com seus grandes chifres, seu couro estampado e nomes poéticos (dedicarei a isso uma crônica à parte), ou as nelore bravas soltas no pasto, foram sendo trocadas pelas holandesas ou cruzadas, melhores de leite. E os pastos foram dando lugar a imensas plantações de soja. E a paisagem me parece hoje ainda mais desolada e o sol ainda mais impiedoso nesse cerrado que às vezes tem clima de deserto.
Pois eis que há algum tempo, depois de vencer minha resistência e visitar a fazenda, vejo que no lugar onde havia a gameleira, brota outra, já alta. Meu pai orgulhoso e paciente me explica como aquela outra árvore foi parar ali. Conta-me que a colheitadeira estragou e para consertá-la, foi preciso erguê-la para retirar-lhe o motor. Ele mandou ficar ali umas tantas estacas onde a máquina foi dependurada, na verdade, uns troncos enegrecidos de árvores. E por dias consecutivos naquelas estacas pousaram pássaros. Até que um dia notou que dentro da madeira oca de uma delas brotara algo. Reconheceu pelas folhas que se tratava de uma gameleira. Os passarinhos carregaram as sementes no ventre e as transportaram para ali com suas fezes. Com muito cuidado, ele transplantou o tronco com a muda para o lugar onde existira antes a outra gameleira.
E a vida hoje se renova e segue ali dentro da estaca convertida em ventre. Então ao olhá-la e ao misturar na memória e na imaginação as reminiscências do passado, as transformações que se operaram, as que ainda se operam, sou tentada a pensar que a felicidade, era ali que ela estava. E tudo aquilo que antes nos parecia atraso, de repente volta a ser promessa. Então observo as pessoas tentando resgatar antigos modelos de fazendas autossustentáveis, a moda da agricultura orgânica e dos produtos feitos na roça, sem tantos adubos, venenos e conservantes.
Tudo aquilo que antes parecia penoso e errado hoje é que nos parece certo. E olho para aquele tronco seco grávido de uma nova árvore e suponho que ela simboliza meu pai: sua casca já ressecada e frágil, mas que guarda dentro de si a energia para uma vida inteira ainda, para muitas vidas. Se ele me dá mais uma lição com isso, além de todas as já tão essenciais que já me deu? Talvez que não podemos reviver o passado, mas podemos nos dedicar ao plantio de uma nova realidade que ainda preserve seus traços mais bonitos.
P.S: Uma canção triste triste triste, mas doce doce doce, que me lembra sempre meu pai, a bonita família Nania, aqueles que já partiram e um tempo distante que passou: http://www.youtube.com/watch?v=vZyFt0VefEo
11:45 | Permalink | Comentários (0) | Tags: histórias agudas e crônicas, pai, fazenda
10-08-2011
Sobre doutores e outras bajulações
Talvez eu tenha mesmo certa dificuldade em aceitar e lidar com a figura da autoridade e ache que no mundo são todos iguais (saiba, afinal, “todo mundo foi neném/ Einstein, Freud e Platão também/ Hitler, Bush e Saddam Hussein/ Quem tem grana e quem não tem”), como canta Adriana Partimpim). Talvez no fundo eu pense que não deveriam existir hierarquias, classes ou castas. Talvez eu seja um pouco rebelde, anárquica ou anarquista.
Não, não disso... Sei muito bem reconhecer a figura de autoridade, conferida pela competência, conhecimento e até pelos instrumentos um pouco tortuosos e questionáveis da democracia: o voto, o sufrágio universal. Ah, e até a autoridade que advém do passar do tempo, dos cabelos brancos, conquistada ou mesmo imposta pelos laços do afeto e do respeito.
Em minha casa, por exemplo, sempre fomos acostumados a responder aos chamados de pai e mãe com um “senhor” ou “senhora”, jamais com “o que?”. Isso seria repreensão na certa ou até boca lavada com sabão preto de soda. E nem nunca foi preciso que meus pais usassem de medidas tão severas, porque sempre aceitei de bom grado a imposição, que me parecia simplesmente adequada, até porque eram mais velhos – fui filha temporã – e de origem rural. Era simplesmente o costume, a tradição.
Mas uma coisa com a qual não me acostumo é a tal da cerimônia do arrasta-bunda, do lambe-botas, do puxa-testículo, escancarada e desavergonhada. E com as suas manifestações mais leves e mais sutis: uma simples forma de tratamento usada nas circunstâncias inapropriadas. Por exemplo, não consigo achar natural chamar alguém que não é doutor de doutor. E não sou dos que acham que o termo deveria ser empregado apenas para quem é philososophus doctor ou doutor honoris causa e outros academicismos. Para mim, doutor é simplesmente médico, o que se forma em medicina e exerce a profissão. Usá-lo em outra circunstância é simplesmente forçação de barra.
Os demais são senhores, senhoras, madames, mademoiselles, cara, véi, o escambau, o que mais couber, mas doutor, pelaamordedeus, não! Doutorizar o dono ou diretor rico da empresa, ou o chefe do órgão público, só porque ele detém o poder da caneta, do contra-cheque ou do grito, é no mínimo uma manifestação de subserviência. Ah, vá lá, se você é mais velho, pode até ser a repetição de um hábito adquirido em tempos em que órgão público era repartição, em que não havia nomeações técnicas, concursos públicos e tudo eram arranjos e favores políticos. Então, era preciso ficar o tempo todo manifestando gratidão e adoração pelo concedente do favor concedido. Não que estejamos tão distantes desse tempo ainda, mas muitas coisas, convenhamos, mudaram.
E pra provar que não estou sendo tão rebelde ou radical assim, até tolero ver gente do meio jurídico, advogados, juízes, promotores e simpatizantes se tratarem mutuamente de doutor fulano, doutora fulana, porque, pobrezinhos, suas pisquês ainda vivem na Roma Antiga, entre togas, espelhos, jargões e citações em latim.
Senhora é a sua vó! - Mas se você não for se dirigir nem a um médico nem a um vaidoso advogado, por que chamá-lo de doutor? E por que pronunciar esse termo num tom ora hiperbólico, ora meio humilhado. “Ah, doutor, que honra o Sr. aqui!” E por que repetir mil vezes diante do doutorizado, como se ela fosse mel em sua boca e música para os ouvidos dele? “Está bem para o senhor, doutor?”
Aliás não bastaria usar o tratamento “senhor” quando se desejasse manifestar respeito? Para mim, bastaria. Aliás, para mim seria suficiente que não me chamassem de “senhora”, porque a única coisa que essa palavra me remete é que não, não estou ficando mais poderosa, mas apenas mais velha! (Please, se alguma vez eu for alguma coisa na ordem desse mundo, o que é bem improvável, só me chamem de você. Ainda que eu esteja caindo de caduca e decrépita, façam-me essa caridade: me chamem ainda de você. Ainda que precisem completar “vossa mercê, sua velha vinda do século passado!”)
Confesso que muitas vezes sinto vergonha alheia quando testemunho essas e outras manifestações bajulosas. Coloco-me não só na posição do que encera o chão com as nádegas, mas do pobre senhor(a) rico(a) ou poderoso(a) que as recebe. Costumo observá-los demoradamente, ao subserviente, para ver se noto em sua face humana algum resto de dignidade, ou ao doutor, para ver se vislumbro ali algum sinal de constrangimento ou desagrado. Porque uma coisa em que sempre me recusei a acreditar é que pessoas com certo grau de cultura, esclarecimento, modéstia, senso de realidade ou do ridículo, possam se sentir à vontade e massageadas, tendo os pés lambidos e o saco puxado. Ora, alguém que é minimamente inteligente sabe que elogios demasiados, pronomes ou títulos fora do lugar escondem por trás medos, interesses, e raras vezes legítima admiração ou amizade.
Certa vez, porém, observando o caso de um conhecido, muito inteligente por sinal, que era cotado para importante cargo público, me surpreendi com sua reação de gozo e felicidade ao receber os mais molhados lambidos, os mais ritmados puxões. Espantei-me e manifestei minha preocupação a alguém, que me deu uma interessante explicação. A razão era que pessoas que ocupam importantes cargos de chefia, tanto em estabelecimentos públicos quanto privados, posições muito cobiçadas, alvos constantes de ameaças e conspirações, têm uma estranha necessidade de receber provas de apreço, de amizade, de fidelidade.
Só assim conseguem acreditar diferenciar seus amigos de inimigos. Aqueles que dão a cara a tapa, que defendem publicamente seu nome e sua posição, aqueles seriam seus verdadeiros amigos, não seriam capazes de traí-lo. Faz sentido. Mas sedutor engano, porque o subserviente em geral é promíscuo ao se submeter, subjugar e submergir. Ora submete-se a um, ora a outro, conforme o vento ou seus interesses sopram.
Para concluir este texto que já se estendeu demais, fico pensando que esse hábito que tanto me irrita serve de alerta pra todos nós, para não sermos tentados pela sedução da autoridade, para, na hipótese de um dia virmos a ser “doutores de alguma coisa”, não cairmos nessa perigosa armadilha do ego, da vaidade. Talvez devamos sempre então nos lembrar dos velhos clichês: todos nós tivemos o bumbum lavado, e principalmente “todo mundo vai morrer/presidente, general ou rei/anglo-saxão ou muçulmano/todo e qualquer ser humano”.
Para ouvir: (http://letras.terra.com.br/adriana-calcanhotto/102226/)
00:00 | Permalink | Comentários (1) | Tags: histórias agudas e crônicas
26-07-2011
Amostra grátis?
Habituada a estacionar ali todos os dias antes de ir para o trabalho e principalmente à condição de invisibilidade que se agravava à medida que sobre ela agiam a lei da gravidade e a perda de elastina da pele, a moça, já não tão moça, foi surpreendida pelo carro que a seguia devagar. Chegou a preparar-se para a fuga em disparada, afinal, ultimamente, quando um homem se aproximava dela, temia que quisesse roubar a sua bolsa. Foi surpreendida, porém, pelo alto rapaz que saltava do carro e pedia que ela não se assustasse.
Explicou que costumava observá-la todos os dias quando ela caminhava para o trabalho. Que a achava bonita, elegante e atraente. Apenas sorriu amareladamente, pois perdera o hábito de receber elogios masculinos. Invisível, há quanto tempo andava invisível. Teve, porém, a destreza de estudá-lo: alto, corpo musculoso, aliás músculos bastante abundantes, um sorriso aberto e aparentemente franco. Uns vinte e três, vinte e sete anos no máximo. Em suma: apetescível. Aceitou lhe dar o número de seu telefone e qual não foi a surpresa quando no mesmo dia ele telefonou.
Encheu-se de interesse e esperança. O inusitado, afinal, acontece. Para ser surpreendida por inesperadas alegrias, basta enfim estar viva. O romance, enfim, o romance. Marcaram um novo encontro para o dia seguinte, no mesmo local e horário. Nesse segundo encontro, ele se apressou em informá-la que preferia as mulheres mais velhas, que se aborrecia com garotinhas. Contou também sobre sua preocupação com a aparência, sobre os muitos esportes que praticava. Sutilmente, pegou sua mão e colocou sobre seu abdome tanquinho. Ela constrangeu-se um pouco, mas achou o gesto no mínimo excitante.
Marcaram um terceiro encontro, dessa vez num café ali perto do estacionamento. Ele não tinha muito a declarar. Sorria, sorria e sorria. Ela relevou, afinal já conhecera, em tempos remotos, suficientes homens para não esperar manter com a maioria diálogos instigantes ou profundos. Se desejasse conversas temáticas, terapia de vidas atuais e passadas, deveria procurá-las com as amigas. No mais, que homens e mulheres se deitassem no leito de Procustes.
Novamente o assunto de sua predileção: os cuidados que tinha com o corpo, os esportes que praticava. “Você parece um tanto exibicionista”, ela falou sem pensar. Ele não se deu por ofendido: “gosto mesmo de me exibir”. E levantou a camisa para mais uma vez mostrar, agora à visão e não ao tato, os gominhos de sua trabalhada anatomia. E se insinuava e se jogava sobre ela, ensaiando íntimas carícias.
Ela começou a pressentir que algo não marchava bem, afinal quando a esmola é demais a santa desconfia. Ela ainda tinha lá seus atrativos, mas sabia que não era nem nunca fora mulher de parar o trânsito. Não seguia os padrões convencionais de juventude e gostosura vigentes no Brasil e mais ainda em Goiânia, habitadas por mais loiras do que toda a Dinamarca, com cabelos longos de Rapunzel, calças mais justas que a justiça divina e silicone aos litros.
Mais uma vez, porém, justificou o inusitado do jovem interesse, considerando o fato de que ele não era goiano e sim pernambucano, e que, portanto, poderia ter um padrão de comportamento um pouco diferente. Os goianos jamais ou muito raramente abordavam uma mulher assim, de forma espontânea e direta. Nas viagens que já fizera a outros países e mesmo outros estados, já tivera a experiência de ser seguida nas ruas, de ser abordada por desconhecidos. Eram tempos diferentes aqueles, é verdade, era talvez uns dez anos mais jovem, mas havia um clima favorável às perseguições amorosas mesmo entre a fumaça e dureza das ruas, e da rotina. Algo absolutamente incomum por aqui, onde os homens são incapazes de dar sequer um passo à frente pela mulher que desejam.
Considerou o que certa vez lhe dissera um namorado paulistano sobre os homens da terra goyazes. “São um misto de arrogantes com tímidos, custam se aproximar de uma mulher e, quando se aproximam, ou se rasgam em exagerados e dissimulados elogios, em clichês vergonhosos e desavergonhados, ou são laconicamente broncos, simplesmente laçando-as ou enlaçando-as, contando com a sorte de que elas estejam em dias de cio”. Sim, porque, como dizia ele: “por aqui as mulheres ficam com os homens porque decidem ficar, porque num determinado dia saem de casa firmemente decididas a dar: hoje beijarei alguém, hoje dormirei com alguém, n`importe qui ou quoi, não porque sejam cortejadas ou seduzidas.”
Alertada por qualquer instinto ancestral de autopreservação e tratando de segurar bem a bolsa, começou a indagar sobre o que ele fazia da vida. Tinha sim um emprego, mas só trabalhava pela manhã, à tarde desenvolvia outras atividades. De repente perguntou-lhe a queima-roupa, de forma que ele foi pego no susto e não teve como se esquivar. “Desculpe, se te ofendo, mas por tudo que observei até agora, me parece que você ganha a vida fazendo a corte às mulheres, não é verdade?” Um tanto surpreso, mas sem ruborizar, ele respondeu: “e se eu assim vivesse, de você não iria cobrar”. E sorriu, seu sorriso aberto e franco.
Foi quanto bastou. Ela voltaria de bom grado para sua cômoda invisibilidade, afinal, a primeira vez poderia ser amostra grátis. As outras, porém, quem saberia? E pelo menos para ser invisível não precisava pagar nada. Que se danasse o romance. Ele já não existe neste tempo e lugar.
21:41 | Permalink | Comentários (0) | Tags: histórias agudas e crônicas, contos de foda, mulher, mulheres