29-01-2012
Antologia de textos, músicas e pessoas
Calendário amoroso
Meu amor por você já passou por todas as fases
da vida breve de um amor.
Já foi novo em folha e branco leitoso,
segredo.
Quase não se deixava ver.
Já cresceu no quarto,
crescente, convexo,
complexo.
Já se encheu de alegria, esperanças e medo
e brilhou ao ponto
de quase nos deixar ofuscados e cegos.
Depois, minguou,
guardado no seu côncavo,
triste, humilhado, decepcionado,
um mero vulto e resto de amor.
Meu amor já foi império.
Já ordenou o fluxo das marés,
o plantio das lavouras,
o crescimento dos cabelos,
o sangue das mulheres,
o nascimento dos bebês.
Agora, quase não é.
O amor não dura tanto quanto os astros
e as estrelas.
Ele se desintegra e cai
como um cometa,
partido em milhões de pedaços.
É só o pó, a poeira,
cósmica,
alegórica.
Durou tão pouco quanto
deve durar
a vida breve
e esplêndida
do amor
que todo dia se arrepende
de ser amor.
Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=RX0ZS25nVgI
08:37 | Permalink | Comentários (0) | Tags: "antologia de textos, músicas e pessoas"
28-01-2012
Antologia de textos, músicas e pessoas
In-confidência goiana
Deus,
quando eu provar de um vinho que não seja o seu
e de uma carne que não seja a sua,
faça com que eu mantenha
a minha boca fechada.
Ou afaste de mim de uma vez
esse cálice.
Ou cale-me.
Ou tranque meu corpo.
Ou interdite as minhas palavras,
que ando um poço
até aqui de lágrima.
http://www.youtube.com/watch?v=Wkfv3LxEfxA
Uma nova modalidade de amor
para se contrapor
ao platônico.
Este vê cores em tudo,
ao longe.
Já o amor daltônico
vê dores em tudo
o que come.
http://www.youtube.com/watch?v=H263F_Ds298
Diabo de água morro abaixo.
Diabo de fogo morro acima.
Diabo de brasa
que não vira cinza.
Devasta.
Cerra os dentes,
queima
e morde.
Vai,
covarde,
eis sua coivara.
09:01 | Permalink | Comentários (0) | Tags: "antologia de textos, músicas e pesoas", melancolia
23-01-2012
Costura a quatro mãos
Foto da artista francesa Fréderique Daubal
(Poeminha costurado com os motes de Cynthia Lorena Cintra, que também me ajuda a me coser)
Faz de mim um trapo.
Me chama de farrapo.
Depois me costura.
Eu,
não você,
com a linha e as agulhas
que nem a gente supunha
que podia ter.
Quando a gente pensava
que era o fim da linha
e do pano
surge um monte de remendos
e de enganos
a fazer.
Somos essa grande colcha de retalhos,
corte de um,
rasgo de outro,
um tecido,
de metro tão doído.
Mas ao fim o resultado
é esse desenho bonito
que se vê hoje.
Eu chamaria de seres de artesanato,
mas os chiques dão o nome
de patchwork .
08:33 | Permalink | Comentários (0) | Tags: melancolia, retalhos, remendos