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25-12-2011

Por que não envio mensagens de boas festas?

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Esclareço antes de tudo que se hoje, de um modo geral, não envio mensagens de feliz natal, bom ano novo e assemelhados, não significa que eu já não as tenha enviado ou que não irei enviá-las no futuro. Não aprecio igualmente dizer “nunca desta água adocicada beberei”. Não as envio neste momento porque hoje, mais do que antes, detesto palavras vazias, ou melhor, abomino aquelas que já se cristalizaram em hábito, que pela repetição já perderam o sentido original, se diluíram e transformaram em meros ruídos. Deixaram de significar, de transportar sentido para apenas manter o canal, uma espécie de “alô, estou aqui, estamos todos”.  Em meros ruídos já se converteram a expressões bom dia, como vai, tudo bem?

Quem de fato ao dizer bom dia deseja sinceramente que o dia seja bom? Cumprimentamo-nos automaticamente, dizemos, papagaios, com licença, por favor, obrigado, o que é desejável e razoável. Seguimos o protocolo da civilidade, essa boa dose de eufemismo ou hipocrisia que faz manter a humanidade em sua jaula e não a deixa abandonar-se novamente à sua selva original. Até o feliz natal ou o bom ano novo emprego, como reza a boa educação, às vezes sim, mais raramente, prestando atenção ao seu sentido, com intenção e carinho sinceros, às vezes, mais frequentemente, simplesmente para ser cortês. Mas não gasto as migalhas do meu escasso tempo livre elaborando e enviando mensagens de boas festas

      A maioria das mensagens é vazia, repete os tais votos por um período de renovação, renascimento, reconciliação, solidariedade, blá, blá, blá. Por mais que tentem personalizá-las, trazê-las para perto de suas realidades, trocando palavras de lugar, não conseguem fugir do clichê.Tenho sincera comiseração por quem é obrigado, por razões pessoais ou profissionais, a torturar a sua alma criativa, e forjar uma mensagem diferente e original para a família, amigos ou para a firma. Que ginástica, que missão impossível!

E há em tais mensagens um tom paradoxal de mea-culpa e ao mesmo tempo imperativo que me aborrece. Por um lado, deve-se proceder a um ritual de auto-análise e autoflagelação. “Errei, não alcancei, não obtive, mas no ano vindouro tudo será diferente”. “E que você acerte, e que você se renove e que você atente para o que realmente importa”. “E que você seja assim e assado”. E lá vêm e vão as lições de moral e de bem viver. Como se o calo que nos dói fosse um único e generalizado calo.

Também nada contra dar-se a si mesmo lições. Acredito que somos mesmo seres em construção e lapidação, mas vamos combinar que não é preciso ficar alardeando isso o tempo todo. Até mesmo porque essas fórmulas e  receitas já estão saturadas de tanto uso e de tanta publicação de auto-ajuda. Vivemos um excesso de mensagens, de informação. Foi-se o tempo em que eram uns poucos que podiam mandar pelo Correio seus cartões de boas festas. Hoje, todo mundo pode criar e enviar seu próprio cartão, publicar nas redes sociais suas mensagens pessoais. E isso cria uma enorme demanda de saudações a ler e responder. Uma enorme demanda em que me sinto muitas vezes soterrada.

 E se alguém me envia uma mensagem e eu não respondo? E as veleidades e o amor-próprio que posso ferir? E se mando a mensagem para este e não para aquele, e aquele se rasga de ciúmes? E se mando uma mesma mensagem para todos e alguns se ressentem de não ter lhes reservado palavras únicas e exclusivas? Para tanto, é pouca a vida.

Por isso, reservo-me certo direito ao silêncio. Reservo-me a reserva de cumprimentar apenas privadamente alguns poucos e de só escrever alguma coisa quando tiver algo verdadeiramente a comunicar, não para simplesmente alimentar essa enorme e festiva indústria de ruídos. E chega, que já falei demais.