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11-03-2012

La non-lectrice

a_leitora.jpg

 Antes eu ouvia apenas

as vozes do aquém e do além.
Lia somente

as palavras impressas em tinta,
que me pareciam querer bem,
as que aceitavam ser espremidas
entre os limites

das margens e das linhas.
Hoje, ouço principalmente os silêncios,
que são por onde melhor se comunica.
Leio na branca página
o que se diz no invisível.
Se não está escrito,
não quer dizer que exista ou não exista
ou que queira ou não queira ser dito.

(Bem-me-quer, mal-me-quer, não-me-quer.

As pétalas e folhas ao vento

são apenas um desfolhado

coração de mulher.)

Mas o grande perigo ou engano

ou martírio

tanto das palavras

quanto dos silêncios e vazios

é que são todos e ambos

ambíguos e polissêmicos,

e sujeitos e objetos

de nossos excessos

de imaginação,

desvarios,

de nosso desvios

de carência ou interpretação.

Então,

às vezes desejo sofregamente

uma nova condição:

ser uma não-leitora,

e ouvir apenas ruídos

e ver apenas manchas,

não signos.

E seguir não lendo

e não sentindo.

 

 

 

 

21:03 | Permalink | Comentários (0) | Tags: poemas

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