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30-01-2011

Gato de pensão

 

gatinho2.jpg

 

Estou tão carente

como um filhote de macaco,

como um gato de pensão.

Ando grudando ao pescoço

da primeira que passa.

Mas nenhuma delas

me cata os piolhos,

como você me catava.

 

Vivo metido debaixo das mesas

dos restaurantes,

embaraçado às toalhas,

roçando a penugem das pernas

das mulheres anônimas.

Mas nenhuma delas me chuta,

como você me chutava.

 

Reviro as latas de lixo.

Mio sobre os telhados.

Faço canção sertaneja

e até serenata.

Mas você não chama a polícia.

Não joga um balde de água,

nem atira tomates.

 

Me diz o que falta

pre ter você de volta,

para chamar sua atenção.

Já plantei bananeira.

Já virei cambalhota.

Vivo de quatro.

 

Se é a última prova?

Quer que eu me arraste?

Pois vai então:

- do chão não se passa -

o último bolso

de minha última calça.

 

 

bolso.jpg

Como me disse uma vez meu amigo, o escritor Itamar Pires, os poemas de "Escritos para uso pessoal e doméstico", além de pessoais e domésticos, contam também pequenas histórias de nossas lutas inglórias.

 

 

 

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