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16-04-2009

Papai, não! Paralelepípedo!

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“Enquanto bebês comuns balbuciam sons quase ininteligíveis, como gugu-dadá, papá, mamã, meu bebê prodígio revela sua eloquência, precocidade, genialidade e super-dotes. A primeira palavra que pronunciou não foi papai ou mamãe, mas pa-ra-le-le-pí-pe-do. Porém, não dessa forma, soletrando, como um recém-alfabetizado a recitar a cartilha. Falou a palavra, inteira, rapidamente, prontinho que está para declamar os mais complexos trava-línguas.”
Não seria de se estranhar se encontrássemos por aí uma mãe a gabar-se assim, orgulhosa, das qualidades extraordinárias de seu gênio em miniatura. Impressionante como, desde a gestação, estabelece-se uma competição ferrenha e doentia entre mães, que irá estender-se, claro, até os filhos, pobrezinhos, muitas vezes por toda a vida.
As disputas envolvem a ocorrência e a intensidade dos enjoos, o tamanho da barriga, o grau de inchaço dos pés e, claro, os movimentos e malabarismos do feto. Já encontrei grávidas, com apenas três meses de gestação, que diziam ter visto o pezinho do neném cutucando e chutando a barriga, todos os dedinhos definindo-se na fineza da pele materna. Não ousei questionar o tamanho de um feto de três meses, afinal, com o ventre, expande-se também a já fértil imaginação da mulher.
O pior ocorre mesmo depois que nascem. É um tal de correr até a vizinha para comparar os rebentos. Medem-se peso e altura, a data do nascimento dos dentes, os mínimos aprendizados e progressos, se já engatinha, se já anda. E não só mães envolvem-se nessa competição. Tias e avós metem-se a comparar os bebês da família. Aninha é gordinha, enquanto Maria é miúda. Pedrinho é mais esperto. Joãozinho já tem um ano e ainda não anda.
Essas comparações certamente já existiram desde que Matusalém era neném, mas parece haver algo de perigosamente competitivo nelas, sobretudo porque algumas mães se tornam verdadeiramente obsessivas, tentando forçar os filhos a fazerem coisas para as quais ainda não estão preparados, desrespeitando as etapas naturais e desiguais de seu desenvolvimento. Parece-me ainda mais perigoso porque começa a se delinear aí uma prática que ficará mais evidente quando as crianças estiverem crescidas.
Há amigas que gostam, por exemplo, de comparar os boletins dos meninos. Se seus filhos têm notas piores, forçam-nos a estudar, não porque o estudo ilumina, abre os horizontes, mas porque é preciso ser melhor que outro, é preciso ser um vencedor e não um “loser”, terminologia tão empregada nos filmes enlatados sobre adolescentes americanos. E há também as competições a respeito do número de atividades praticadas: natação, música, futebol, inglês, dando origem a uma geração de crianças com agenda lotada, e fortes candidatas às doenças de adultos, ao estresse e à depressão.
Lembro o episódio daquele pai, cujo filho de oito anos, foi aprovado em um vestibular de uma faculdade privada em Goiânia. O pai expôs o menino na mídia como um pequeno gênio e queria o direito de que ele pudesse se matricular. Um menino de oito anos na faculdade, para quê? Por que, afinal, desejamos que nossos filhos sejam prodígios e precoces se eles têm a vida inteira para aprender e envelhecer?

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Comentários

É isso aí, Lulu. Abaixo o "futuro-executivo-de-sucesso". Eu quero mesmo e tomar água de coco na praia.

Escrito por: pgalvez | 26-06-2009

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